Uma bomba para o futuro
Mesmo com inflação baixa e declinante, a taxa Selic foi novamente aumentada. E isso terá grande reflexo no dispêndio com juros, cujo total de todo o setor público brasileiro atingiu R$ 179,3 bilhões nos últimos doze meses, até maio. Para se ter uma noção mais exata desse valor, basta citar que ele representa mais de seis vezes o orçamento do Estado do RS para o corrente ano. A alta dos juros é conseqüência do excesso de gastos, mas pode ser também sua causa, como está ocorrendo.
Como se sabe, o Brasil, a despeito das mudanças de critério que aumentaram o PIB no atual governo, tem uma alta carga tributária, em torno de 35% do citado indicador. Desse total, a União fica com cerca de 20%, com que consegue investir apenas 1% e pagar menos da metade dos juros devidos.
Os juros não pagos somam-se à dívida, que aumenta de valor, resultando em mais juros. Só nos últimos doze meses, os juros devidos pelo Governo Federal importaram em R$ 139 bilhões, 27% superior a igual período anterior. Como só puderam ser pagos 32%, os 68% restantes ajudaram a aumentar o saldo da dívida.
Mas não é só isso que faz crescer os juros. Outra causa são as reservas cambiais, que são aplicadas com uma remuneração muito menor que a taxa paga na capitação dos recursos para seu financiamento. Mas isso é um mal que vem do bem.
A outra causa, a mais perniciosa, é a capitalização do BNDES, onde foram aplicados R$ 180 bilhões. Segundo o economista Mailson da Nóbrega, grande parte desse valor serve para financiar empresas concessionárias de serviço público, a juros subsidiados, disfarçando o verdadeiro valor das tarifas de energia e de pedágios, dando a falsa impressão de que é reduzido.
Todas essas operações foram responsáveis por um crescimento da dívida bruta interna nos últimos doze meses na ordem de R$ 434 bilhões, ou 25%, quando a inflação foi pouco superior a 5%.
O Brasil tem uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. Taxa de juros alta atrai capitais especulativos externos, reduzindo a taxa de câmbio, com reflexo negativos nas transações com o exterior, cujo déficit nos cinco primeiros meses do ano cresceu 184%.
Por tudo isso, se medidas corretivas não forem tomadas, no tocante à redução dos gastos correntes do Governo Federal, ao endividamento e à fixação das taxas de juros, podermos estar formando uma grande bomba-relógio para o futuro.
Publicado na Zero Hora de 23/07/2010.