Políticas econômicas certas
Os jornais têm noticiado diariamente a situação econômica dos países da Zona do Euro, que estão com déficit e dívida pública em torno de 7% e 84% do PIB, respectivamente. Isso sem falar nos cinco casos, que formam a sigla denominada PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), com déficits e dívidas altíssimos, alcançando 12% e 125% do PIB, no caso da Grécia.
É lógico que a crise financeira recente contribuiu para isso, mas não foi a causa principal. Ela está na irresponsabilidade fiscal, que eleva os gastos públicos a patamares incompatíveis com a arrecadação. A Grécia, o que está em pior situação, paga para o funcionalismo um salário extra no Natal, meio no verão e meio na Páscoa!
Hoje, quando vemos o Brasil numa situação bem mais confortável, com déficit e dívida em torno de 3% e 43%, respectivamente, devemos olhar para trás e ver que muitas das reformas denominadas (mal denominadas, muitas vezes) de neoliberais, foram suas causas primeiras, a despeito de toda a incompreensão da época.
O primeiro passo foi dado no já distante ano de 1985, quando foi extinta a conta movimento do Banco do Brasil, que era um direito de saque contra o Banco Central, para suprir as deficiências diárias de recursos, na prática, uma maquina de gerar inflação.
O próprio plano Real, cujo sucesso se verificou após sucessivos planos frustrados, não teria tido a vitória que teve no combate à inflação, se não tivesse sido editada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que disciplinou os gastos em todos os níveis de governo. Outro fator altamente positivo foi a renegociação das dívidas dos estados, tão injustamente combatida.
Também teve grande influência o saneamento do sistema financeiro, tanto dos bancos públicos como dos privados. As privatizações e o fim do monopólio estatal em setores que precisavam ser expandidos e o governo não dispunha de recursos para tal, sem endividamento, foram medidas indispensáveis ao processo.
A própria mudança de tratamento do que seja capital estrangeiro foi muito importante na atração de investimentos para um país com baixo índice de poupança interna, especialmente no setor público.
Tudo em economia é sistêmico, nada acontece isoladamente. Muitas vezes o que parece ser de hoje é a colheita de frutos de políticas econômicas certas feitas bem antes e que foram mantidas, com mérito, no presente!
Publicado no Jornal do Comércio, em 09/03/2010 – Secção Opinião.