A taxa de desemprego pode ser irreal

Para entender o que é taxa de desemprego é bom que se entenda os conceitos do mercado de trabalho, a partir de como é constituída a população. O IBGE, segundo publicação do primeiro trimestre de 2023, considera desempregadas as pessoas com 14 anos ou mais que não estão trabalhando, mas estão disponíveis para encontrar trabalho.

A população divide-se em PIA e PINA, população em idade economicamente ativa e população em idade economicamente inativa. A PINA é considerada pelo IBGE como todos os indivíduos que não fazem parte da PIA. Pode ser dito que compõem a PINA as pessoas abaixo de certa idade, geralmente considerada, 10 anos, inválidas, física ou mentalmente, para trabalhar, idosas, réus e outras não classificadas na PEA ou na PNEA.

A PIA é formada pela PEA e pela PNEA, ou seja: população economicamente ativa e população economicamente não ativa. A PEA, por sua vez, é formada por população ocupada e população desocupada. É a força de trabalho. Resumindo, tem-se:

Pop = PIA + PINA
PIA = PEA + PNEA
PEA = PO + PD.

E a taxa de desemprego é relação entre População desempregada (PD) e a população economicamente ativa (PEA), assim:

Taxa de desemprego = PD/PEA x 100

A PEA é formada por pessoas ocupadas (PO) e por pessoas que, mesmo desocupadas (PD), procuram emprego. Daí surge a diferença para as pessoas desalentadas, que são aptas as trabalhar, mas por uma razão ou por outra, desistiram de procurar emprego. As pessoas desalentadas fazem parte da PNEA, formada também pelas atividades do lar, estudantes, aposentados, pensionistas, rentistas, etc.

Há outros conceitos importante na análise em causa:
Taxa de participação: PEA/PIA, que são as pessoas ocupadas ou procurando emprego em relação à população em idade ativa.

Nível de ocupação: PO/PIA, que corresponde a relação entre as pessoas ocupadas e a população em idade ativa.

A população ocupada (PO)  inclui todos os empregados com carteira assinada, autônomos, empregadores e aqueles que exercem atividades não remuneradas por pelo menos15 horas semanais (trabalho voluntário, estágio ou ajudam nos negócios da família).

A população desocupada (PD) não possuem trabalho, mas procuram emprego e recentemente tomaram medidas na procura de emprego, como olhar anúncios de jornais ou tentaram saber de alguma oportunidade.

O IBGE considera desempregados aqueles que procuraram emprego dentro de um mês antes da realização da pesquisa. Aqueles que procuraram empregos pela última vez há mais de um mês são considerados desalentados e, como tal, classificados na PNEA. Segundo o IBGE, site citado na Bibliografia, o número de desalentados no 1° trimestre de 2023 foi de 3,9 milhões ou 41,4% do número de desempregados, de 9,4 milhões.

Redução da taxa de participação
Segundo Valor Econômico, matéria de 12/06/2023, citada na bibliografia, diz que estudo da FGV aponta redução da taxa de participação no mercado de trabalho, que mede a PEA (PEA/PIA), encolheu, puxada por jovens menos escolarizados e de baixa renda. Outro estudo, da LCA Consultores mostra que 1/3 dos que deixaram a força de trabalho (PEA) receberam auxílio Brasil.

Segundo dados da Pnad Contínua Anual 2022, compilados pela LCA, 31,8% do total que deixou a força de trabalho era beneficiário do Auxílio Brasil. Diga-se de passagem, que o atual governo manteve o mesmo benefício sob o nome de Bolsa Família, com o mesmo valor, mais um adicional de R$ 150,00 por filho até seis anos. Outros 41% recebiam pensão, aposentadoria ou BPC/LOAS, e outros 27% que saíram e não receberam outro tipo de rendimento.

A taxa de participação estava em 61,3% no primeiro trimestre de 2023. Repetindo, ela mede a razão entre PEA/PIA. A média de 2018 e 2019 era de 63,4%. Segundo a matéria, com esta relação, haveria mais 3,4 milhões na força de trabalho. Se todo esse contingente procurasse emprego e não encontrasse, o desemprego seria de 11,4%. É um cenário extremo, mas o desemprego é maior diz Fernando Veloso, do FGV IBRE, segundo a fonte.

Porque a taxa de participação  pode distorcer a taxa de desemprego
A idade mínima para considerar desemprego, o IBGE está considerando 14 anos. Toda vez que as pessoas deixam de procurar emprego passados mais de  30 dias após a pesquisa PNAD, elas saem da força de trabalho (PEA) e vão para a PNEA, como desalentadas.

Se o critério fosse considerar como desempregados e não como desalentados, a taxa de desemprego não se alteraria. Ocorre, no entanto, que um contingente grande de pessoas prefere não trabalhar com carteira assinada para receber os benefícios do governo federal que, de outra forma, perderiam o direito. Com isso saem na PEA e vão para a PNEA. E isso faz baixar a taxa de desemprego, conforme passamos a demonstrar, com números hipotéticos, a seguir:

PEA (Força de trabalho) 100
PO 90
PD 10
Taxa desemprego 10,0%
Abandonam a PEA, como  
desalentados > PEA 2
   
PEA (Força de trabalho) 98
PO 90
PD 8
Taxa desemprego: 8/98 x 100 8,2%

Se o trabalhador perdesse o emprego e continuasse a procurar emprego e seria um desempregado e, portanto, da PEA, que continuaria em 100.

Porto Alegre, 14/06/2023

REFERÊNCIAS.
VALOR ECONÔMICO, de 12/06/2023 – Fernandes, Anais e Gombata, Marcilea. População economicamente ativa cai e “distorce” taxa de desemprego. https://valor.globo.com/impresso/noticia/2023/06/12/populacao-economicamente-ativa-cai-e-distorce-taxa-de-desemprego.ghtml
Porquê, economês bom português. https://porque.com.br/cards/taxa-de-desemprego.
IBGE – Desemprego. https://ibge.gov.br/explica/desemprego.php
Diversos outros “sites”. Consultas variadas.
SANTOS – Darcy Francisco Carvalho dos. A Previdência Social no Brasil: 1923-2009. Uma Visão Econômica, p.68/69.

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