A corrupção por si só é uma coisa perniciosa e inaceitável, mas assume contornos muito mais graves quando atinge diretamente os mais pobres, aqueles cujos ganhos são escassos para seu sustento.
É o caso dos descontos nas contas dos aposentados do INSS, sem autorização, atingindo pessoas indefesas, na sua maioria, porque não dispõem dos recursos e conhecimentos necessários para buscar seus extratos de contas e fazer as reclamações necessárias. Para isso, basta citar que 67% dos casos são de aposentados rurais, que residem distantes dos centros urbanos, onde poderiam encontrar os recursos para evitar esses descontos. Em resumo, é um ato de crueldade.
O governo tomou as providências para a devolução de R$ 292,7 milhões relativos ao mês de abril/2025. Para os casos passados, o aposentado terá que entender dos meandros da tecnologia digital, a começar pelo “govbr”, que apresenta certas dificuldades para se cadastrar nele. A pessoa é covardemente lesada e, ainda, fica com o ônus da prova.
Mas, a maior preocupação é achar os culpados pelos desvios e qual governo tomou as providências para regularizar a situação. Dizem que começou no governo passado, mas eu diria que vem de muito antes, embora o primeiro grande aumento tenha ocorrido em 2022, último ano do governo anterior.
Diga-se passagem, o governo anterior teve o mérito de editar a medida provisória nº 871/2019 para dificultar esses procedimentos, estabelecendo um ano o prazo para revalidação dos descontos. No Congresso foi aumentado o prazo para três anos e, por fim, acabou ficando sem tal obrigatoriedade.
O gráfico no final ilustra muito bem a situação, no tocante aos valores descontados, que alcançaram R$ 413 milhões em 2016, valores que se mantiveram nos anos seguintes e até com uma certa redução a partir de 2019. Em 2022, no entanto, houve um salto de 32% em relação ao ano anterior, crescendo 83% em 2023 e 121% em 2024, quando os valores descontados foram para 2.848 milhões.

Conforme citado pelos órgãos de imprensa, em abril de 2025 foram descontados R$ 292,7 milhões que, segundo o governo, é o valor relativo a esse mês. Sendo esse o valor de um mês, multiplicando-se por 12, corresponde a R$ 3,512 bilhões e por 13, R$ 3,8 bilhões, indicando que o roubo estava se expandindo.
Que saia a CPMI, mas que não se transforme em palanque de acusações recíprocas entre governo e oposição.