Com sua atuação em 2017, que RS o governador Sartori está ajudando a construir?

ESTE ARTIGO FOI EM RESPOSTA À PERGUNTA DO CADERNO “DOC”, DA ZERO HORA, que corresponde a seu título

Um governador deveria se voltar muito mais aos fins e aos resultados de seu governo, do que aos meios para atingi-los. No entanto, no RS, os meios suplantam em muito os fins, tamanha é sua prevalência, ou melhor dizendo, sua insuficiência.

O governador atual recebeu o Estado com um déficit de R$ 5,4 bilhões e, apesar dos ajustes feitos, encerrou seu primeiro ano com um resultado negativo de R$ 4,9 bilhões, 74% da receita líquida em despesa de pessoal e uma margem para investir negativa de 13% da mesma base. E, como agravante, os recursos extras estavam praticamente esgotados, a despesa crescente e a receita em acentuado declínio.

Editou uma lei de responsabilidade fiscal estadual, instituiu a previdência complementar, ambas fundamentais, mas com efeito de médio e longo prazo, só para ficar com as principais medidas.

Em 2016 refinanciou a dívida com a União, conseguindo alterar o indexador, reduzir os juros e prorrogar o pagamento até 2048, tornando a prestação mais baixa e declinante, em relação à receita. Mas isso não foi suficiente.

O Estado necessita não só eliminar os déficits, como aplicar mais e melhor em educação, e formar margem para investir. Um estado com população em idade ativa quase estagnada só crescerá com investimentos e desenvolvimento tecnológico, o que é improvável, quando a cada ano decrescem os índices educacionais.

Como medida estrutural faltou a reforma da previdência, sem o que o Estado não sairá da crise, mesmo com crescimento econômico. Mas isso depende, em grande parte, do governo federal.

Em 2017 o governo buscou incessantemente a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que suspende o pagamento da dívida com a União (hoje suspenso por liminar)  por três anos, prorrogável por mais três. Ele não é o melhor dos mundos, mas é a única saída capaz de evitar o aumento dos déficits e a ingovernabilidade. Não há plano B.

Mas o RRF não é garantia de estabilidade futura. Tudo vai depender do crescimento da economia e de como o governo atual e os vindouros, incluindo todos os Poderes, conduzirão os ajustes futuros.

Por isso, o RRF, principal ação de 2017, complementa as medidas anteriores, e é a única condição para a retomada do desenvolvimento estadual, mas pode ser a volta à estaca zero, ou pior que isso,  a derrocada.

Artigo publicado no caderno “Doc” da Zero Hora de 30/12/2017.

4 comments

  1. Junior

    Achei a sua análise ótima, mas penso que o Governo perdeu a oportunidade de reformar o estatuto dos servidores do RS para rever alguns aumentos automáticos por tempo de serviço, que fazem a folha crescer sem contratações, e outros benefícios que fazem o setor público ser tão atrativo.

    Gostaria de fazer uma pergunta, o que o Governo Tarso fez de benéfico para as finanças do RS? Ele chegou a renegociar a dívida?

    Queria deixar meu feedback positivo, pois venho acompanhando seu blog desde outubro e acho de grande qualidade seus textos, muito bem fundamentados.

    Um excelente ano novo ao senhor!

    1. Darcy Francisco Carvalho dos Santos

      Prezado Evandro, De fato, os servidores deveriam ser promovidos pelos critério de mérito e não pelo simples passar do tempo. Mas isso é um abelheira.
      Quanto ao governo Tarso, de fato, ele criou o fundo previdenciário, uma medida boa, mas se não vier acompanhada de outras medidas, não resolve. O problema do fundo é que o Estado para levá-lo adiante terá que botar sua parte e ainda colocar no fundo a contribuição dos servidores novos. Não tem dinheiro para isso. Podemos dizer que a intenção foi boa, mas morreu na casca.
      O grande problema do governo Tarso foi o aumento excessivo da despesa com pessoal: 61%, quando a receita cresceu 39% e a inflação, 27%. E o mais grave foi que concedeu reajustes trimestrais para algumas categorias em torno de 18% ao ano até 2018, quando a receita cresceu menos da metade disso. Isso também ajudou a aumentar o déficit previdenciário, nosso maior problema. Obrigado pela participação. Abraço.

  2. Luiz Antonio Lorenzon

    Interessante, enxugar o estado não conta? Demissão de incompetentes e extinção de estatais também? Este velho chavão de que é preciso investir mais em educação já cansou… Quer melhorar a educação, acabe com o MEC e libere a educação…

    1. Darcy Francisco Carvalho dos Santos

      Prezado Lorenzoni, Há uma maneira de aumentar os recursos da educação sem colocar mais dinheiro. Basta alterar as regras previdenciárias. Hoje para cada 100 pago a professor em atividade, o Estado despende 150 entre aposentadorias e pensões. Seria uma maneira de melhorar a educação. Obrigado pela participação. Abç.

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