O fisiologismo político no RS

Home é bicho que se doma/Como qualquer outro bicho;
Tem, às vezes, seu capricho/Mas logo larga de mão,
Vendo no cocho a ração/Faz que não sente o rabicho.
(Poesia Antônio Chimango de Amaro Juvenal)

A população de nosso Estado elegeu em primeiro Turno, com ampla maioria de votos, o Sr. Tarso Genro para Governador. E escolheu, ao mesmo tempo, outra maioria para fazer oposição. Essa foi delegação irrevogável do povo gaúcho.
No entanto, na busca de interesses menores, certos partidos ignoram a delegação popular e pretendem fazer parte do novo governo, sob as mais diversas e estapafúrdias justificativas.

Uma delas é que é necessário ajudar o novo governo para o bem do Estado, como se fazer oposição fosse fazer o mal. Isso pode ser verdade, quando é feita uma oposição irresponsável, incondicional, que visa apenas interesses imediatos ou partidários. Mas a oposição séria, responsável, além de necessária, é um ingrediente indispensável da democracia, que possibilita a tão salutar alternância de poder.

Outra justificativa é a de que precisam apoiar o novo governo para continuar recebendo as obras que o atual está construindo nos municípios do interior. Ora, dar continuidade a obras, além de ser uma obrigação legal e atender ao princípio constitucional da economicidade, é um imperativo ético a que nenhum governo pode ser furtar. Se um governo necessita de apoio de partidos que fizeram oposição a sua candidatura para continuar obras já em andamento, esse governo não é digno de apoio. E isso, com certeza, não será o caráter do futuro governo.

Por causa dessas coisas é que a política e os políticos estão cada vez mais desacreditados. Não há ideologia, nem respeito a si próprio por parte dos políticos. O que prova isso foram as denúncias de corrupção de que foram vítimas muitos dos integrantes do atual governo, cujos partidos querem se bandear para o lado do novo governo.

Se as denúncias eram inverídicas esses partidos tinham a obrigação de se negar a participar do novo governo e se eram verdadeiras, o novo governo é que não devia aceitar a participação deles.

Mesmo que se diga que os atingidos foram algumas pessoas e não os partidos, se não houve expulsão desses participantes é porque as acusações foram consideradas infundadas por eles.
Por tudo isso, é que firmei a convicção de que Amaro Juvenal tinha razão.

Publicado na Zero Hora de 18/11/2010.

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