O estranho empréstimo da Petrobras

A imprensa noticiou recentemente que a Petrobras recebeu da Caixa Econômica Federal um empréstimo de R$ 2 bilhões para capital de giro. Isso causa surpresa por se tratar da maior empresa do País, que apresentou no balanço de 2007 um ativo total de R$ 211 bilhões, o dobro da empresa que lhe segue, a Vale. Sua receita operacional foi de R$ 127 bilhões, quase seis vezes a da Vale, que atingiu R$ 22 bilhões. O lucro líquido da estatal foi de 22 bilhões.
A Petrobras possui um monopólio natural no tocante à fixação dos preços dos combustíveis, que se mantêm irredutíveis mesmo quando ocorre redução do preço do petróleo ou da taxa de câmbio. Com isso, tem uma rentabilidade alta e garantida, o que lhe permitiria formar uma reserva suficiente de recursos para enfrentar os períodos de crise.
Pelo que foi noticiado, a empresa aplicou um ajuste de despesa mediante medidas que são próprias de organizações que passam por grave crise financeira, como: suspensão de linha de telefone celular, corte dos cursos ministrados aos aprovados no último concurso, suspensão de bolsas de estudo, adiamento de patrocínio cultural para mais um ano após, entre outros itens. Foi cancelado até mesmo um seminário cujo patrocínio custaria à estatal R$ 1 milhão (o que é um milhão de reais para a Petrobrás?).
Segundo a mesma fonte, um alto represente do Governo teria assim se expressado: “Que história é essa de que não podemos emprestar para uma das empresas mais sólidas do Brasil”!
Pois o problema é exatamente esse, o de aplicar no financiamento de capital de giro da maior empresa brasileira recursos que deveriam ser canalizados para finalidades sociais, como saneamento básico e habitação popular, entre outras.
Que a Petrobrás vai pagar o empréstimo, não há dúvida. Mas o raciocínio para esse caso não deve ser comercial ou financeiro, mas social. Por tudo isso, mesmo que legal e seguro para a Caixa, não deixa de ser muito estranho esse empréstimo à Petrobras.

Publicado no Jornal do Comércio em 03/12/2008.

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