As cinzas da fênix

A situação deficitária do Estado é antiga e conhecida de todos. Investindo-se zero e cumprindo-se tudo o que manda a legislação, faltam 15% para zerar o déficit.
Como vem se aplicando a metade do que determina a Constituição Federal em saúde, 85% do que manda a Constituição Estadual em educação e praticamente nada em ciência e tecnologia, consegue-se fazer o mínimo de investimentos e fechar os balanços com um déficit em torno de 8 a 10%. Traduzindo-se em valores, isso representa uma importância em torno de R$ 1 bilhão anual.
Numa frase simples, pode-se dizer: a despesa do Estado não cabe dentro de sua receita. E, quando uma coisa não cabe dentro da outra, a solução está em reduzir uma ou aumentar a outra ou ambas as ações.
No caso do Estado, a solução não é exatamente essa, pois não há a alternativa de mexer numa ou noutra. O déficit só será superado conjugando-se invariavelmente as duas ações.
Isso decorre do fato da dificuldade de redução da maior despesa, que é a com pessoal, que tem um crescimento vegetativo decorrente das vantagens funcionais e da necessidade de reposição, mesmo que parcial, dos que se aposentam. Então, o máximo que se consegue é conter seu crescimento e para isso não podem ser concedidos nem, talvez, os reajustes decorrentes da inflação.
A despesa com a dívida também acompanha o crescimento da receita corrente, eis que está limitada a um percentual desta.
Então, conter despesa é fundamental, mais do que isso, imperativo, mas não basta. Necessita-se do crescimento da receita permanente, que deve advir do crescimento econômico. Mas isso não se verifica no curto prazo.
A receita extra é de fundamental importância para suprir as deficiências de caixa, até que a receita permanente atinja o montante necessário para acabar com o déficit.
Como se esgotaram as fontes de receitas extras, a situação se coloca no seguinte impasse: Ou aprova-se o pacote nas suas duas dimensões, de aumento de receita e de contenção de despesa, ou aposta-se no pior, esperando que as finanças cheguem ao fundo do poço, com todas as conseqüências sociais daí decorrentes.
Aqueles que pretendem apostar no pior para colher o melhor, futuramente poderão gerar as piores conseqüências. A fênix poderá ressurgir, mas as cinzas serão formadas pelas carências das pessoas que mais necessitam das ações do Estado.

Publicado em Zero Hora de 06 de novembro de 2007.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*
*